Roteiro para o Diálogo Inter-Religioso e Cultural

O Roteiro do Diálogo Inter-religioso e Cultural (RDIRC) é um projeto concebido pela área de Ciência das Religiões da Un. Lusófona, em parceira com a Associação “Karingana Wa Karingana”, acolhido e financiado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade.

Este projeto cívico e pedagógico decorreu paralelamente ao Roteiro Cidadania em Portugal – Parar, Pensar, Agir, promovido pela ANIMAR (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local), que percorreu o país com o objetivo de promover o diálogo e a partilha de experiências sobre a Cidadania e a Igualdade. O Roteiro do Diálogo Inter-religioso e Cultural acrescentou a abordagem ao fenómeno religioso, reconhecendo e enquadrando a Diversidade Religiosa, promovendo o Respeito através do Conhecimento e do Diálogo.

Desenrolou-se ao longo de cinco meses implementando dois programas em vários municípios distribuídos pelo território nacional.

O projeto incluiu duas categorias de ações: «VER o Diálogo nas Escolas», centrado no trabalho junto de crianças e jovens, nas escolas, e «As Religiões e os desafios da atualidade», um ciclo de grandes debates temáticos.

Equipa:

Paulo Mendes Pinto (coordenação geral e direção científica)

Manuel Gomes (gestor de projecto)

Joaquim Franco (coordenação da ação 2)

Rui Lomelino de Freitas (coordenação da ação 1)

Mariana Vital

Alexandre Honrado

Especialistas envolvidos:

Alexandre Honrado (Historiador e Escritor), Anabela Freitas (Presidente Câm. Mun. Tomar), António Caria Mendes (Comunidade Judaica), António Faria (Comunidade Budista), António Marujo (jornalista), Carmen Bandeo (Rede Talitha Kum), David Munir (Imã da Mesquita Central de Lisboa), Elisha Salas (Rabino Comunidade Judaica de Belmonte), Esmeralda Lima (diretora do Colégio de Sta. Teresa de Jesus), Fernanda Henriques (professora de Filosofia), Filomena Barros (professora de História do Islão), Filomena Barros (Professora de História do Islão), Fr. José Nunes (padre dominicano), Rachid Ismael (Director do Colégio Islâmico de Palmela), Isabel Allegro Magalhães (Movimento Graal), Isobel Andrade (Congregação Politeísta Portugal), João Ferreira Dias (Com. Port. do Candomblé Yorùbá), João Serrano (Confraria Ibérica do Tejo), Joaquim Moreira (A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), José   Brissos-Lino (pastor    protestante   e    professor   de Psicologia da Religião), Margarida Cardoso (diretora do Centro Budista do Porto), Pe Alberto Brito (padre jesuíta), Pe Carlos Godinho (Obra Nacional da Pastoral do Turismo), Pe. Daniel (Paróquia de Arruda dos Vinhos), Pe. Pedro Marques (Pároco Católico de Fafe), Pedro Machado (Presidente da Entidade Regional Turismo do Centro de Portugal), Rui Batista (Fé Baha’i).

Elenco das ações:

Ação 1: VER o Diálogo nas Escolas

Enquanto proposta desenhada para o enquadramento escolar, levou os investigadores do RDIRC a conceber atividades e a produzir materiais e conteúdos didáticos que dão sustentabilidade e consistência às ações pedagógicas desenvolvias com/nas escolas

Ação 2: As Religiões e os desafios da atualidade

Esta dimensão do projeto assumiu a realização de debates a partir de temas atuais, que reuniu representantes de várias tradições religiosas, assim como investigadores.

VER o Diálogo nas Escolas Ação 1 Desenvolvimento e  implementação:

Conceitos:

A melhor apreensão e articulação de conteúdos pode ser compreendida em torno dos três eixos fundamentais, «“Valores”, “Espiritualidades”, “Religiões” (V.E.R.), direcionados para a Cidadania, conforme as seguintes propostas de definição:

–  Valores:

Não se entende aqui com este termo o ensino moral na aceção tradicional de inculcar noções de um código moral ou de adesão a princípios externos. A partir da investigação reflexiva, tendo como ponto de partida a sensibilidade ao “valor” humano, à empatia e à consciência da dignidade inerente ao ser humano, procura-se aqui estimular a perceção do(s) sentido(s) ético(s) na consciência própria para uma aplicabilidade na vida individual e no organismo social. Promove-se assim a sensibilização à vida em geral numa aceção ecológica de igualdade de direito, à vida humana em particular, bem como o desenvolvimento ou o aprofundamento de critérios fundamentais para o exercício do pensamento crítico aplicado aos eixos temáticos seguintes (Espiritualidades e Religiões).

 

–  Espiritualidades:

 A proposta de utilização deste termo envolve a noção clara das suas implicações. Oferece dificuldades e um sentido de responsabilidade pedagógica extremos, nomeadamente pela incipiência da tentativa académica de estabelecer uma definição ontológica e pela insuficiência de considerá-la como um termo “técnico”, sem qualquer ambiguidade ou sentidos vários. Todavia, considerando que a criação de um termo novo não facilitaria a nossa tarefa e visto que também não nos interessa desistir de trabalhar este conceito específico, utilizaremos o termo espiritualidade no sentido de “interior”, ou seja o eixo espontâneo de sentido subjetivo pessoal organizador da experiência e da realidade, dador de sentido à vida e às coisas. Este âmbito compreende a experiência da “sacralidade” e do “mistério” da vida, a experiência subjetiva do símbolo, da alegoria, e da formulação das questões clássicas: Quem sou eu, de onde venho, para onde vou (e das eventuais respostas individuais). Em suma, qual é o meu lugar no cosmo (universal, social, etc.).

As implicações do desenvolvimento deste âmbito não se esgotam no universo das religiões – bem pelo contrário: é importante aqui frisar as possibilidades de expressão de espiritualidades agnósticas, ateias, etc.

 

–  Religiões:

 Consideramos ser importante que este eixo se inspire nos anteriores. Contudo, sublinhamos que, na prática, a abordagem dos 3 eixos não será sequencial. Pelo contrário, haverá uma simultaneidade articulada em torno de momentos específicos, ao longo das aulas ou de uma mesma aula. Deste modo, consideramos poder abordar o fenómeno religioso com a compreensão e respeito pelo “outro”. Nesta linha, apresentaremos o fenómeno religioso a partir de três abordagens interdependentes:

 

a)A atualidade a partir da experiência pessoal e do universo social dos alunos, no seu contacto com manifestações religiosas distintas – incluindo as características e manifestações culturais diversas em cada religião, como crenças e hábitos distintivos; a desconstrução dos preconceitos, estereótipos e lugares-comuns (a distinção entre o que caracteriza a religião e o que caracteriza os grupos culturais e étnicos por vezes associados).

b)As ideias, os relatos e os mitos da religião no tempo, a sua conceção do transcendente, seus mensageiros, seus livros (se for o caso), mensagem, princípios, práticas e principais tradições. Procura-se que os aspetos filosóficos decorram em articulação com as experiências e conclusões relativas aos eixos 1 e 2 e, ainda filosoficamente, que as descrições de cada religião sigam um esquema-tipo (apresentação tipológica, quadros de ideias, etc.) que permita alguma visão comparativa.

c)Historicamente haverá a preocupação de facilitar a visão dos principais marcos numa linha cronológica não só de cada religião, mas de todas as religiões abordadas, de modo a dar visibilidade aos acontecimentos no tempo, com as suas simultaneidades e paralelismos, ou continuidades ou disrupções. Também a perceção no espaço será facilitada pela indicação no mapa da origem e dos movimentos de expansão e contração dos movimentos Serão dados exemplos claros de momentos de confronto e conflito mas também dos períodos históricos de tolerância e de convivência entre as distintas religiões.

Actividades didático-pedagógicas da ação “VER o Diálogo nas Escola”:

(Atividades com escolas, com autarquias e outros parceiros sociais)

1.  Dimensão expositiva

Exposição exploratória a partir de uma abordagem não confessional segundo a estrutura VER: Valores, Espiritualidades e Religiões. Procurou-se realçar elementos de sensibilidade e consciência do valor humano e da universalidade da aperceção do valor de cada indivíduo humano e das noções universais de fraternidade entre seres humanos; salvaguardou-se o espaço para a dimensão espiritual numa perspetiva não-confessional, de reconhecimento da imanência individual de um eixo interior, dador de sentido às coisas e organizador da experiência, independentemente da perspetiva religiosa, agnóstica ou ateia: e por fim foi feita a abordagem do fenómeno religioso na sua diversidade e formas, numa perspetiva desconstrutora de preconceitos e estimuladora de interesse pelo “outro”, pelo “diferente, na valorização da diversidade.

2.  Dinâmica filosófica

Atividade formulada em torno da ação peddy paper, com concurso de “cultura geral” sobre o universo religioso, visando mostrar a variedade e abrangência do tema, por um lado; e, por outro, procurando desconstruir alguns erros comuns de perceção gerados pelo preconceito no âmbito do religioso, frequentemente sedimentado como “opinião geral”.

Relatório Roteiro – final