Um prémio sobre Religião e Ecologia

Os sinais são evidentes, as preocupações ganham espaço de intervenção, os problemas ambientais e os desafios da ecologia têm assumido uma dinâmica prioritária nas narrativas religiosas. Em sintonia, a Área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona lança um «prémio» para distinguir projetos pastorais e atividades de confissões religiosas que revelem ser inspiradas no princípio de uma “ecologia integral”.

Prémio para distinguir projetos pastorais e atividades de confissões religiosas inspiradas numa “ecologia integral”

A iniciativa foi apresentada no final do debate Religião e Ecologia, realizado esta terça-feira, dia 19 de junho, na Amadora, que juntou representantes de grupos religiosos para assinalar o primeiro aniversário do Compromisso pela Casa Comum e pela Ética do Cuidado (1), assinado em 2017 por lideranças religiosas em Portugal.

“Além de um «prémio» ou de um «selo» de boas práticas, queremos que seja o reconhecimento pela preocupação das comunidades religiosas com os desafios ambientais”, disse Paulo Mendes Pinto, coordenador da Área de Ciência das Religiões da Lusófona. Embora modelo e critérios estejam a ser ainda trabalhados, pretende-se “apresentar os respetivos regulamentos ainda este ano”, de forma a que a 1ª edição do «prémio» seja em junho de 2019, explica, “desafiando as comunidades religiosas à criatividade, com propostas de ação ou projetos já em curso”, uma vez que “a experiência religiosa é também a prática desse ethos relacional, no qual o homem se vê e compreende em relação responsável com o meio”.

Este «prémio» inspira-se “no «selo ambiental» criado nalguns países, como no Brasil, pelas igrejas evangélicas, ou em França, numa iniciativa ecuménica que junta igrejas protestantes e Conferência Episcopal”, adianta Joaquim Franco, membro do Observatório para a Liberdade Religiosa, outra plataforma de investigadores associada a esta iniciativa, que fala num “chamamento verde” em contexto religioso, num “grito da Terra, que se ouve hoje e bem alto pela voz do Papa Francisco, incansável na promoção desta ecologia integral, conceito no qual a preocupação com a natureza se revela inseparável do combate à pobreza”.

Ampliando “o princípio da ética do cuidado, fazendo-o prática do quotidiano”, o investigador dá uma pista sobre o mote estratégico deste «prémio»: “A pedagogia a fazer não é só para grandes medidas, mas também, e sobretudo, para pequenas coisas que, numa cadeia de comportamentos e de exemplos, tendo a experiência comunitária religiosa como pano de fundo, podem fazer uma grande diferença”.

Na sessão da Amadora, Cátia Rosas, do Ministério do Ambiente, lembrou também a encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, enaltecendo a “disponibilidade das religiões e respetivos líderes” para fazerem deste assunto um tópico do diálogo inter-religioso.

No debate, o investigador António Faria, professor de filosofias orientais, sublinhou que Religião e Ecologia representam uma mesma realidade: “Não há religião que não seja também ecologia e não pode falar-se de ecologia sem o contexto das religiões”.

Por sua vez, o investigador Fabrizio Boscaglia mostrou a relevância da Ecologia no Islão. Lembrando passagens do Alcorão, tais como “E não causeis corrupção na Terra (40, 79)”, Boscaglia  lembrou que “o próprio conceito de Religião remete para a ideia de se conseguir um equilíbrio entre o ser humano e os outros seres”.

A intervenção de vários representantes de confissões religiosas revelou que neste domínio há um inquestionável caminho comum a fazer. Após o debate, os representantes religiosos presentes subscreveram simbolicamente o Compromisso, reforçando o gesto de Gaia.

Foi o quinto debate do ciclo de conferências O Mundo na Amadora, Diálogo entre religiões e Culturas, numa parceria entre a autarquia e a universidade. O sexto, a realizar na “festa do livro” da Amadora, em setembro, terá como tema Religião e Literatura.